Como eu sou uma pessoa curiosa, comecei a perguntar sobre a pesquisa. Queria saber qual é o objetivo; se já existem outras pesquisas nesse campo; como ele escolheria os indivíduos; qual o tempo determinado para o experimento; qual seria o tamanho da amostra; quais seriam os métodos adotados; como ele faria para controlar algumas variáveis. Enfim, perguntei tudo que você pode imaginar. A consulta de 40 minutos, se tornou em uma conversa “divertida” de 1 hora e 20 minutos (ainda bem que o próximo paciente tinha desmarcado).
Ele, também curioso, perguntou: “Você não é Estatístico, é?”
Depois de uma “leve” risada, eu afirmei: “Sim, eu sou estatístico, e inclusive atualmente trabalho na área da saúde. Não com pesquisa, mas com análise de custos assistenciais e análise de perfil do usuário de plano de saúde. Mas isso não quer dizer que eu não posso ajudá-lo! Vamos trabalhar juntos?”
A partir daí, começamos uma série de troca de e-mails. Comecei a pensar na importância que tem uma pesquisa médica dessa magnitude, e quantos benefícios esse tratamento pode gerar ao paciente. Então, o meu desafio inicial é tentar “desenhar” o planejamento de experimentos mais adequado para que a pesquisa seja o mais eficiente possível. Afinal de contas, o planejamento de experimentos é o começo de tudo. Pelo menos, deveria ser!
Quero compartilhar com vocês, o que fizemos essa semana. Vamos citar as etapas, e comentar qual a importância em cada uma delas no seu planejamento. Não vou citar a pesquisa real da qual estamos participando (por questões óbvias). O objetivo aqui é compartilhar conhecimento para que vocês possam proceder de forma semelhante em suas pesquisas.
Então para começar, definimos o planejamento em 9 etapas:
- Quem fará o estudo ou pesquisa? É importante definir o responsável ou responsáveis pelo estudo. Os profissionais envolvidos devem adotar um padrão na coleta de dados (seja por observação, aplicação de questionários). A falta de padrão pode influenciar nos resultados. O estudo tem que ser o mais homogêneo possível na definição de critérios.
- Qual é o objetivo? Esse é o momento de definir o propósito da pesquisa. Por exemplo, verificar se um tratamento A é mais eficiente que o B. É comum encontrarmos pesquisas com objetivos definidos de forma errada.
- O que será estudado? Qual será o seu público alvo? Definir com clareza quem é o objeto do estudo. Nosso público alvo. Por exemplo, se queremos analisar a eficiência de um medicamento que ameniza a dor de uma pós-cirurgia cardíaca, a nossa amostra tem que ser composta por pacientes que fizeram essa cirurgia, e não de outras cirurgias. Foco no grupo de interesse.
- Onde será realizado? Definir o local ou locais da coleta de dados. Será no consultório, na rua, no shopping.
- Quando será realizado? Definir um período específico para obtenção dos dados para que a variável tempo não influencie nos resultados (a não ser que ela deve influenciar).
- Quais métodos? Definir um método de acordo com o seu objetivo. Pode ser “estudo caso-controle”, “estudo de coorte”, “ensaios clínicos aleatorizados”, “estudos descritivos”, “seccionais ou transversais”. O que importa mesmo é escolher o método correto.
- Como será medido e quanto? Quais são as variáveis, as unidades. O que realmente é relevante para a pesquisa.
- Quantos indivíduos? Esse é o passo onde definimos o tamanho amostral (seria interessante utilizar técnicas de amostragem). Quando se trata de experimentos na área médica, às vezes é difícil conseguir amostras. Então nesses casos, a amostra deveria ser a maior possível para melhorar a confiabilidade dos resultados.
- Por quê? Onde queremos chegar com a pesquisa.
A análise de dados deve ser realizada pelo pesquisador, mas de preferência com ajuda de um estatístico, desde o começo da pesquisa. O mais comum é o pesquisador entrar em contato com um estatístico apenas quando for realizar as análises estatísticas, e esse não é o caminho. Os estatísticos são os profissionais mais indicados para aplicar os recursos necessários para refutar ou não as hipóteses previamente formuladas. E deveriam ser imprescindíveis.
Bom, quis apenas dar uma “pincelada” nas etapas do planejamento e mostrar para você como podemos aplicar a estatística no dia-a-dia.
Dica: encontre uma oportunidade para aplicar seus conhecimentos em estatística. Elas estão por todos os lugares. Desafie-se a resolver problemas. Encontre soluções. Sinta o medo. Mas tenha coragem para propor algo. Aprenda com seus erros e com os dos outros.
Esse é o caminho para nos tornarmos mais fortes, pessoas melhores e disseminadores do conhecimento.
Mas e aí, queremos saber: você já encontrou “oportunidades disfarçadas” para aplicar seu conhecimento? Como foi? Trouxe resultado para você e sua equipe? Compartilhe! Queremos saber!
Material usado
Imagem de capa do post: http://bit.ly/2gVCqCK
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