O ano era 2015, quando resolvi criar este site. Até eu escrever sobre “Por que devemos aprender a programar em R?”, confesso que não tinha muita a noção de onde esse trabalho poderia me levar. Mesmo porque a intenção sempre foi motivar as pessoas a estudarem estatística, compartilhar conhecimento, aprender continuamente, ajudar as pessoas e promover a estatística e suas aplicações.
Por algum motivo, esse texto chamou a atenção de um gerente de uma multinacional japonesa que atua no Brasil no ramo da agricultura. Especializados na produção de soja, algodão e milho, estavam à procura de um profissional que soubesse analisar dados, programasse em linguagem R e já tivesse projetos desenvolvidos no Agronegócio.
Naquela época, eu atendia todos esses requisitos. Ou pelo menos acreditava que atendia, pois sabia trabalhar com dados, programava em R e já havia desenvolvido quatro projetos (publicados) na área do Agronegócio (embora tivesse analisado os dados com o programa SAS).
O CONTATO
Em uma noite tranquila, ao checar minha caixa de e-mails, percebo a mensagem do gerente da empresa japonesa. Ele se apresenta como responsável pelas plantações no oeste do Estado da Bahia, elogia bastante o texto e depois solicita meu contato direto. Não vejo o porquê não passar. Então marcamos uma call.
No dia seguinte, fizemos uma reunião por telefone, onde ele explicou que a empresa estava desenhando as estratégias de plantação para o próximo ano. Até então, eles contavam com dados, como: tamanho da área de plantação, produção do ano (em toneladas) / cultura, índices pluviométricos, aspectos geográficos, taxas de sucesso e fracasso de plantações, e por aí vai.
Trocamos algumas ideias, expliquei o que havia feito nos meus projetos e disse que daria para replicar. Encerramos a conversa e ele ficou de entrar em contato.
O DIRETOR
Uma semana depois, o gerente entrou em contato pedindo para eu participar de uma reunião com outros gerentes e o Diretor. Concordei, pois afinal de contas, era apenas uma conversa e não havia nada demais.
O dia chegou e começamos a conversa fazendo um resumo do meu primeiro contato com o profissional da empresa. Até aqui, nada de novidade. Mas quando o diretor falou, eu me senti vulnerável. Nunca havia analisado os dados que ele mencionou.
Disse que a empresa tinha uma parceria com a NASA. A partir daquele ano, teriam acesso a dados de sensoriamento remoto, ou seja, sobre objetos (alvos) na plantação, informações de área medidos por ondas e até dados de fenômenos naturais. Além disso, muitas imagens de satélite, dados de sensores que captavam mudanças climáticas e índices de poluição.
O diretor disse que estavam procurando um profissional para conectar todos esses dados e acreditavam que eu podia fazer. Na boa, eu não tinha condições nenhuma de executar o trabalho e continuo não tendo todas as habilidades necessárias.
Infelizmente, eu recusei a proposta. Minha esposa e amigos próximos comentam o caso até hoje. Mas foi a minha escolha.
ANALISAR DADOS DA NASA?
Eu não sei se você já teve a oportunidade de analisar dados coletados pela NASA. Se você já teve e analisou, meus parabéns. Eu não tive essa capacidade.
Na verdade, entrei em pânico quando essa proposta foi feita. Não havia passado pela minha cabeça, a possibilidade de analisar dados de imagens e sensores de uma área de mais de 70 mil hectares. Não consigo imaginar o tamaho desse banco de dados e a diversidade que ele possui. Eu ainda não havia trabalhado com análise de dados na nuvem.
Se eu recebesse uma proposta dessa novamente, eu escutaria com mais calma, solicitaria uma amostra dos dados, avaliaria a situação e montaria uma equipe para criar uma solução. Mas essas ideias aparecem apenas com o tempo. Isso se chama maturidade.
Por ironia do destino, dois anos depois, eu conheci pessoalmente, um dos embaixadores da NASA no Brasil. Mas isso é outra história.