Na última edição de 2019, a capa da revista Carta Capital escancarava o erro do IBGE ao publicar informações incompletas sobre as exportações brasileiras no 3° trimestre do ano. Esqueceram de contabilizar apenas 7 bilhões de dólares, o que fez o mercado se surpreender e gerar dúvidas, pois o PIB brasileiro apresentava uma alta no crescimento trimestral.
O IBGE atribuiu os erros ao Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). Independentemente de onde ocorreu a falha no processo, o deslize custou a imagem do principal provedor de dados e informações do país, que atendem às necessidades de vários segmentos para a sociedade, como emprego, habitação, saúde e educação. O fato foi citado até em jornais mundiais, como Wall Street Journal e Financial Times, e os dados foram colocados à prova.
Até o momento em que escrevo esse texto, não há evidências de manipulação de dados, mas segundo a matéria da revista Carta Capital, foi evidenciado que o sobe e desce da moeda americana rendeu ganhos a alguns players de mercado.
Você deve estar se perguntado? Mas Raniere, o que isso tem a ver com o Censo? Vou explicar para você.
Ao longo dos últimos anos, o IBGE vem perdendo dinheiro (investimentos), funcionários e credibilidade, e fatos como citado no início do texto agravam ainda mais a imagem e a situação. Além disso, há problemas estruturais que geram riscos maiores na entrega de dados imprecisos e a perda de bilhões de reais com pesquisa.
Como se isso não bastasse, o ministro da Economia disse, durante quase todo o ano de 2019, que não haverá dinheiro suficiente para fazer o Censo 2020 e sugeriu que o IBGE vendesse os próprios imóveis. Recomendou também que a pesquisa fosse simplificada, com menos perguntas.
Com isso, teremos uma abrangência bem menor e serão aplicados questionários que não contemplam informações sobre aluguéis e imigração. A falta dessas informações afeta a criação de políticas públicas eficientes.
Vale lembrar que o censo ocorre a cada 10 anos. Em 2010 a população do Brasil era de 195 milhões de habitantes e a estimativa de 2020 é de 211 milhões, com um saldo de 16 milhões de habitantes.
Com o mundo se transformando cada vez mais rápido, você já parou para pensar em quantas mudanças acontecem em 10 anos? O que não saberemos se o Censo não for realizado de forma eficiente e significativa? Como os governos destinarão o dinheiro se não conhecem sua população?
“O censo é a única pesquisa que vai a todos os domicílios brasileiros. Os recenseadores do IBGE vão de porta em porta, em cada cidade, para contar e conhecer nosso povo, percorrendo todo o território nacional. Os resultados permitem um retrato atualizado e preciso da população de cada pedacinho do Brasil; do menor ao maior município; de áreas rurais e urbanas” – Fonte: IBGE
É através do censo podemos responder:
- Qual o retrato do povo brasileiro?
- Quantos somos?
- Onde estamos?
- Como vivemos?
- Que mudanças aconteceram nas cidades?
- Houve grandes movimentos de população de uma área para outra?
“As informações do censo são estratégicas para o planejamento das ações em todos os níveis de governo e para a representação política. Elas serão a base de decisões sobre serviços de saúde, educação, emprego, condições de moradia e diversos outros assuntos”. – Fonte IBGE
Diante dos problemas estruturais do IBGE, da falta de verbas para realização do censo, do corte de perguntas na pesquisa, seria viável realizá-la dessa forma? Que resultados podemos esperar?
Sabemos que o censo é importante tanto para governos como para iniciativas privadas, e que atualmente uma lacuna de 10 anos representa uma série de mudanças. Vamos ficar na torcida para que seja realizado de forma eficiente apresentando resultados válidos e significativos.