Estudos de caso controle e grupos de teste

Quem é que não gosta de ler aquela notícia que traz satisfação ao lê-la? Já pensou na felicidade que você sente quando lê algo do tipo: “O chocolate diminui o risco de infartos”; ou “cerveja faz bem para a saúde”? Mas você sabe como são feitos os estudos que chegam nesses resultados?

Enquanto estamos “rolando o feed” de notícias do Facebook, visualizando aquela foto bacana no Instagram, deslizando o dedo freneticamente na timeline do Twitter, ou até mesmo assistindo ao jornal, é provável que você se depare com resultados de algum novo estudo na área da saúde. A questão é que quase sempre tem algo “saltando” aos seus olhos. E é preciso um olhar mais crítico sobre as pesquisas!

Sempre que eu vejo uma notícia que me favorece, como no caso da cerveja, eu costumo me perguntar em que condições esse estudo foi realizado. Mentalmente começo a pensar no Planejamento de Experimentos realizado, nas Técnicas de Amostragem aplicadas para obtenção da amostra, na separação dos grupos. É como se montasse um quebra-cabeça imaginário dentro do meu cérebro. Considero isso como um “exercício”, e dá para aprender bastante com ele.

Costumo questionar mentalmente algumas pesquisas, e sempre que possível debato com alguns colegas (como fiz na semana passada em um pub). Penso que essa pode ser uma maneira saudável de aprender, e por isso resolvi trazer um “Estudo de caso” para você. A ideia é fazer você pensar no processo de como essa pesquisa foi realizada. Quais critérios foram adotados? Pense no caminho inverso para chegar até lá! Dos Resultados → Análise Estatística → Estudos de Caso Controle (ou grupo) → Amostragem → Planejamento de Experimentos.

Vamos fazer esse “exercício” juntos! Você está pronto?

Estudo de caso

Frequentemente, o resultado do estudo é realmente atrativo para os olhos, como é o caso da seguinte manchete do USA TODAY: “O chocolate diminui o risco de infartos. Certamente, uma manchete como essa pode prender sua atenção, especialmente se você for um admirador do chocolate. No entanto, é importante descobrir o tipo de estudo que foi conduzido e determinar se ele indicou uma associação potencial (ou seja, mostrou uma ligação potencial entre o consumo do chocolate e o risco de infarto) ou uma relação causal (ou seja, mostrou que o ato de consumir chocolate efetivamente diminui o risco de um infarto).

Dois tipos importantes de estudo médico são (1) estudos de caso controle e (2) estudos com grupos de teste. Um estudo de controle de casos é um estudo observacional que essencialmente trabalha de trás para frente. No caso da história mencionada no parágrafo anterior, as pessoas no estudo foram classificadas em dois grupos diferentes – aquelas que tiveram um infarto e aquelas que não tiveram um infarto. As pessoas foram entrevistadas e questionadas em relação aos seus hábitos de consumo de chocolate.

O estudo revelou que a proporção de pessoas que consumia chocolate era mais alta no grupo dos que não tiveram um infarto. Como foi observado no artigo da USA TODAY, esse resultado sobre a relação em pauta mostrou ser consistente ao longo de uma série de estudos de caso controle independentes, que foram combinados em um único estudo, utilizando-se um processo conhecido como meta-análise.

Por conseguinte, com essas informações, esse conjunto de estudos de caso controle leva a uma nova pergunta:

O ato de consumir chocolate efetivamente reduz o risco de se ter um infarto, ou existe alguma coisa a mais que possa ser a causa desses resultados?

Estudo de CASO Controle X Estudo de Grupo

Quando um estudo de caso controle identifica uma ligação causal potencial, a etapa seguinte diz respeito a realizar um estudo com grupos de teste (ou seja, um teste clínico). Em um estudo com grupos de teste, os indivíduos são selecionados para participar do estudo e, depois, são divididos em diferentes grupos, com cada um dos grupos recebendo um tratamento específico.

Nesse caso, os membros em um dos grupos comeriam chocolate regularmente, enquanto os membros no outro grupo não comeriam chocolate. Os participantes seriam observados durante um longo período de tempo e a proporção das pessoas que tivessem um infarto seria comparada. Caso o resultado desse estudo se mostre coerente com o resultado do estudo de caso controle, pesquisas suplementares teriam que ser conduzidas no intuito de se determinar a ligação biológica ou química entre chocolate e a prevenção de infartos.

Uma pergunta que você poderia fazer neste ponto é:

Por que razão realizaríamos um estudo de caso controle em vez de começar com um estudo com grupos de teste desde o princípio?

A razão é que estudos de grupos, especialmente aqueles que envolvem questões relacionadas com a saúde, são demasiadamente onerosas e envolvem grandes períodos de tempo. No exemplo que trata de chocolate e infarto, os pesquisadores terão que esperar para determinar se os indivíduos têm, ou não, um infarto. Se você não sabe se existe ou não uma associação entre o consumo de chocolate e o risco de infarto, provavelmente você não desejaria gastar tempo e dinheiro para realizar esse estudo.

Estudos de caso controle, por outro lado, são relativamente baratos e fáceis de serem realizados, uma vez que são mantidos bancos de dados no que se refere a eventos relacionados com a saúde, e, consequentemente, os resultados do estudo podem ser obtidos por meio do acesso a esses bancos de dados e por meio de entrevistas.

Os resultados de um estudo de caso controle mais barato nos permitiriam determinar se vale a pena gastar o dinheiro para realizar um estudo com grupos de teste que proporcione dados para ajudar a tomar uma decisão mais consubstanciada.

Momento reflexão

Pense no “estudo de caso” proposto, e tire suas próprias conclusões. Como exercício mental, escolha 1 ou 2 notícias de pesquisas que estão na mídia, e discuta com seus colegas. Ou se quiser, me manda uma mensagem que podemos evoluir no assunto. Fique à vontade.

Por hoje é só! Um abraço e até semana que vem!

 


Amplie seu conhecimento

Mann, Prem S. “Introdução à Estatística”. LTC, edição 8ª, 2015, 788p: 

NE Scotland, Orkney & Shetland. “Eating chocolate linked to ‘lower heart disease and stroke risk'”. BBC News – June 16, 2015: http://bbc.in/2edhIir

Sora, Song. “Study: Chocolate lovers have lower risk of stroke”. Time Magazine (2011): http://ti.me/2eqIv8m

Material usado

Imagem do chocolate: http://bit.ly/2dwRqFb

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